Por que arritmia cardíaca pode ser tanto benigna quanto levar à morte? (2024)

Ela pode ser detectada em exame de eletrocardiograma, mas também passar em branco por ocorrer esporadicamente. Pode ter uma manifestação e nunca mais acontecer, bem como se repetir. Pode ser silenciosa, sem nenhuma manifestação clínica, assim como apresentar sintomas. Pode ser benigna, sem necessidade de intervenção médica, e também mortal.

Por que arritmia cardíaca pode ser tanto benigna quanto levar à morte? (1)

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— A arritmia cardíaca pode variar amplamente em gravidade, desde condições benignas, que não requerem restrições significativas, até situações extremamente graves, que podem levar à morte súbita. O "range" de possibilidades depende de diversos fatores, incluindo o tipo de arritmia, a presença de doenças cardíacas subjacentes, a idade do paciente e outros fatores de risco, como hipertensão, diabetes ou histórico familiar de problemas cardíacos — explica o médico cardiologista Lucas Waldeck, da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro.

— Por exemplo, arritmias como as extrassístoles ventriculares isoladas são geralmente benignas e muitas vezes não causam sintomas ou necessidade de tratamento. Em contraste, arritmias como a fibrilação ventricular são emergências médicas que, sem tratamento imediato, podem levar a parada cardíaca e morte.

Uma arritmia cardíaca é o batimento do coração em ritmo anormal, seja irregular, muito rápido ou muito lento. Existem vários tipos, como taquicardia (batimento acelerado) e bradicardia (batimento devagar). Fibrilação atrial, que fez o técnico Tite, do Flamengo, ser internado, é outro tipo.

No caso de Izquierdo, soube-se depois que o jogador teve uma arritmia cardíaca detectada em exames em 2014. Mas não há informações sobre o tipo dela, o que faz toda a diferença.

— Não sabemos que tipo de arritmia havia sido diagnosticada em 2014. Poderia ter sido extrassístole isolada, fibrilação atrial ou apenas uma bradicardia sinusial. Várias situações podem ser compatíveis com a prática de esporte. Outras não. Se ele já tivesse a taquicardia ventricular documentada, certamente seria contraindicado continuar praticando esporte de alto rendimento — analisa o cardiologista Alexsandro fa*gundes, presidente da Sobrac.

Existe a possibilidade de haver uma manifestação de arritmia cardíaca e depois não ocorrer mais. Mas o cardiologista não acredita que isso seja possível em um caso tão grave como o do zagueiro do Nacional-URU, embora existe a chance de uma pessoa ter mau súbito sem diagnóstico prévio, como aconteceu com o dinamarquês Christian Eriksen.

— Não existem doenças graves que tenham um período de latência tão grande quanto dez anos. Em uma arritmia grave como esta, é possível haver manifestações clínicas prévias, mas existem eventos desta natureza sem manifestação clínica e sem detecção em exames, especialmente os superficiais — comenta o representante da Sobrac.

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No caso de Izquierdo, a arritmia levou a uma parada cardíaca. Depois de cair no gramado aos 39 minutos do segundo tempo do jogo da Conmebol Libertadores contra o São Paulo no Morumbis, o zagueiro deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein em "parada cardíaca, de início indeterminado, secundária a uma arritmia", segundo boletim médico.

Conforme o presidente da Sobrac, para quem tem uma arritmia considerada benigna, a chance de ocorrer uma parada cardíaca é igual a da população em geral, equivalente a menos de 1%. Já em paciente que "tem histórico de infarto, comprometimento das paredes do coração, taquicardia ventricular repetitiva e diminuição do desempenho da musculatura do coração", a possibilidade de uma parada cardíaca chega a 10%.

Tendo uma parada cardíaca, a mortalidade é muito alta, segundo os cardiologistas. O representante do Sobrac cita que as estatísticas mundiais estabelecem índices inferiores a 20% de sucesso de sobrevida.

— A chance de se recuperar e não morrer é ter uma parada cardíaca presenciada, em que as manobras de ressuscitação sejam realizadas imediatamente, no sentido de buscar compressão torácica, manter o cérebro perfundido [com fluxo sanguíneo e oxigenação] e com suporte básico de vida e dar o choque apropriado para reverter a fibrilação ventricular, aplicado por aparelho desfibrilador externo.

Casos como o de Izquierdo, resultando em comprometimento cerebral crítico, são ainda mais graves, com mortalidade próxima de 100%, de acordo com Alexsandro.

— Um quadro que evolui de uma arritmia para uma parada cardíaca e, eventualmente, comprometimento neurológico, é extremamente grave e potencialmente fatal. Essa sequência de eventos indica que a arritmia foi severa o suficiente para interromper o fluxo sanguíneo do coração, resultando em uma parada cardíaca. A parada cardíaca, se não tratada de forma imediata com medidas de reanimação, como desfibrilação e compressões torácicas, pode levar à morte cerebral em poucos minutos, devido à falta de oxigênio no cérebro. Mesmo com intervenção rápida, o comprometimento neurológico pode ocorrer se o fluxo sanguíneo não for restaurado rapidamente — detalha o cardiologista da Casa de Saúde São José.

— Essa sequência de eventos, embora rara, pode acontecer em pessoas com arritmias graves, como a fibrilação ventricular. No entanto, não é comum em todos os tipos de arritmia. Muitos pacientes com arritmias mais benignas nunca experimentam essa progressão. A gravidade e a probabilidade dessa sequência dependem da natureza da arritmia, a presença de outras condições de saúde, e a rapidez e eficácia da resposta ao episódio de parada cardíaca.

Por isso, segundo os especialistas, é essencial que qualquer pessoa diagnosticada com uma arritmia receba um acompanhamento médico adequado para avaliar o risco de complicações.

Fontes:

Lucas Waldeck é médico cardiologista da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro.

Alexsandro fa*gundes é médico cardiologista e presidente Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac).

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